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Sobreviventes de Hiroshima criticam retomada de testes nucleares pelos EUA: 'Inaceitável'

Nuvens de fogo eclodem durante teste nuclear realizado pelos EUA no estado de Nevada em 1955. Departamento de Energia dos EUA via AP Um grupo japonês de sobrev...

Sobreviventes de Hiroshima criticam retomada de testes nucleares pelos EUA: 'Inaceitável'
Sobreviventes de Hiroshima criticam retomada de testes nucleares pelos EUA: 'Inaceitável' (Foto: Reprodução)

Nuvens de fogo eclodem durante teste nuclear realizado pelos EUA no estado de Nevada em 1955. Departamento de Energia dos EUA via AP Um grupo japonês de sobreviventes de bombas atômicas, laureado com o Prêmio Nobel da Paz, criticou veementemente e chamou de "totalmente inaceitável" a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de retomar testes de armas nucleares. ✅ Siga o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp A crítica do grupo, conhecido como Nihon Hidankyo, foi veiculada em uma carta de protesto enviada nesta sexta-feira (31) à embaixada dos EUA no Japão, um dia após o anúncio da ordem de Trump. Vencedor do Nobel da Paz em 2024 justamente por sua luta contra armas nucleares, o Hidankyo afirmou na carta que a ordem de Trump "contradiz diretamente os esforços das nações em todo o mundo que se empenham por um mundo pacífico, sem armas nucleares, e é totalmente inaceitável". O prefeito de Hiroshima, Shiro Suzuki, chegou a questionar se a retomada dos testes não tornaria Trump "indigno do Prêmio Nobel da Paz", referindo-se à intenção da primeira-ministra japonesa, Sanae Takaichi, de indicar o líder americano para o prêmio. Veja os vídeos que estão em alta no g1 Já o prefeito de Nagasaki, Iccho Itoh, também condenou a decisão de Trump, afirmando que ela "despreza os esforços de pessoas em todo o mundo que têm suado sangue e lágrimas para realizar um mundo sem armas nucleares". Trump justificou sua decisão de retomar testes nucleares ao acusar outros países de estarem fazendo testes dessa natureza, e que por isso seria necessário aos EUA não ficarem para trás. (Leia mais abaixo) A ordem de Trump também atraiu outras reações pelo mundo, entre eles da Rússia e da China, potências nucleares e os dois maiores rivais dos EUA (leia mais abaixo). A Organização do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBTO), que regula o uso de armas nucleares no mundo, disse que qualquer teste nuclear seria capaz de desestabilizar segurança mundial. Os sobreviventes das duas bombas atômicas lançadas pelos EUA em Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945 carregam décadas de trauma físico e psicológico, além do estigma resultante do único uso de armas nucleares em combate na história. Cerca de 140 mil pessoas morreram em Hiroshima e outras 74 mil em Nagasaki, muitas delas devido aos efeitos da exposição à radiação. Outros dois grupos de sobreviventes sediados em Hiroshima também se manifestaram, afirmando que "protestam veementemente e exigem firmemente que tais experimentos não sejam conduzidos". A explosão que sacudiu o deserto: como foi o 'Divider', o último teste nuclear dos EUA, há 33 anos Ordem surpreende e levanta dúvidas Trump dá entrevista a bordo do Air Force One antes de chegar à Malásia, neste sábado (25). Evelyn Hockstein/Reuters Donald Trump ordenou a retomada dos testes, suspensos há mais de 30 anos, alegando que o Departamento de Guerra foi instruído a iniciar os testes de armas nucleares "em igualdade de condições", em resposta aos programas de testes de outros países. A ordem foi publicada nas redes sociais minutos antes de Trump se encontrar com o líder chinês Xi Jinping, durante uma cúpula na Coreia do Sul. No entanto, o anúncio deixou muitas dúvidas. Não ficou claro se o presidente se referia ao teste de sistemas de armas ou à condução de explosões de teste reais — algo que os Estados Unidos não realizam desde 1992. A última explosão de teste nuclear dos EUA ocorreu em setembro daquele ano: uma detonação subterrânea de 20 quilotons. O vice-presidente dos Estados Unidos, JD Vance, defendeu a necessidade dos testes, afirmando que eles são "uma parte importante da segurança americana, para garantir que esse arsenal nuclear que temos realmente funcione corretamente". Reações internacionais A comunidade internacional reagiu com preocupação. O ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, classificou os planos de retomada como "regressivos e irresponsáveis", além de representar "uma séria ameaça à paz e segurança internacionais". As declarações de Trump vieram na esteira de anúncios russos sobre testes bem-sucedidos de mísseis de cruzeiro com capacidade nuclear e drones submarinos. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, questionou se Trump havia sido informado corretamente, esclarecendo que os exercícios russos recentes "não podem, de forma alguma, ser interpretados como testes nucleares". A China, por meio de seu porta-voz Guo Jiakun, fez um apelo para que os Estados Unidos "cumpram seriamente" a proibição global de testes nucleares. Os EUA são signatários do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBT) desde 1996, e qualquer teste de ogivas constituiria uma violação flagrante desse acordo. O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, reiterou que "o teste nuclear nunca pode ser permitido sob nenhuma circunstância". Apesar de defender a retomada dos testes, Trump também repetiu a alegação de que deseja negociações com a Rússia e a China sobre a redução dos arsenais nucleares, afirmando que "a desnuclearização seria uma coisa tremenda". No entanto, a retórica nuclear tem retornado à diplomacia global desde o início da invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022. Trump também afirmou que os EUA possuem mais armas nucleares do que qualquer outro país. Essa alegação, contudo, é refutada por estatísticas do Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (SIPRI), que indicam que a Rússia possui 5.489 ogivas nucleares (ou 4.309 ogivas implantadas ou armazenadas, dependendo da fonte específica), em comparação com 5.177 (ou 3.700) dos Estados Unidos e 600 da China.